Podilê

Este blog é um diário das minhas intempéries.

sábado

O escorpião na minha porta

Hoje, deitada pensando nas coisas do dia,  - sim, hoje eu tive tempo, quase nunca dá tempo -
vou dormir dividida, um escorpião espreita a minha porta, mas não vai me picar, já não tenho 15 anos.

Hoje pude viver tão levemente e a vida estava tão boa, tão sem preocupação e quando cheguei em casa, lá estava o escorpião parado na porta, imóvel, amarelo e muito gordo. Quem esse escorpião pensa que é? Acha que pode me intimidar? hahaha, não querido, isso não vai mais acontecer.

Na minha porta para só alegria, amig@ fiel e gente que me defende. Essa espécie de seres, inclusive, passam da porta e ficam para sempre no meu coração. São gentis, sabem conversar com outros da nossa espécie, brincam com meu filho e acariciam os meus gatos de maneira que me faz ter vontade de ser gata e me esfregar neles... suas mãos me hipnotizam.

Escorpião parado na porta, gosto dos seres que sabem cozinhar com produtos orgânicos, que tem hobbies, que jamais estariam num baile funk, que são atenciosos, que sabem pedir bons vinhos; você, escorpião, não me ameaça, não chega perto das espécies que vivem em meu habitat.

Escorpião parado na porta,
na porta vai ficar.




segunda-feira

Delicadezas da rede

Fico pensando em quanto é delicado sobrevivermos,
termos algum juízo,
fazermos a coisa certa.

Crianças se mutilando, matando aos 12 anos, agredindo-se na escola... tem algo muito errado em nós.

Minhas intempéries não ajudam a esclarecer a situação, a clarear os sentidos; é melhor respirar fundo, sair por alguns segundos dessa dinâmica dolorosa em que cresci e vejo meu filho crescer e voltar, já refeita e de posse de algum equilíbrio.

As defesas do indefensável são dolorosas aos pequenininhos e atrapalham a visão de nós, grandes, do que somos, do que queremos para nós e para o mundo.

A proposição de deixar de lado as intempéries não resultou em mais paz, mais harmonia; mas deixar a convivência com os gatilhos, sim.

Então, o afastamento é necessário, o tratamento é ilusão.

Deixemos as coisas se acabarem, deixem-nas como são: loucas, sem sentido, sem coerência, impiedosas. Afaste-se. Harmonize-se. Perdoe. Construa um mundo melhor para si e para os que você ama.

As intempéries cessarão.
Espero que não seja tarde demais.

quinta-feira

È finita

Hoje, indo para o trabalho, ouvi um resumão da Lava-Jato. Disseram que Oderbreth formalizou acordo de delação. Desse acordo, mais de 130 políticos estarão sob investigação. É tanto partido junto que dá pra fazer uma sopa de letrinhas.

Você poderia estar contente com a Lava-jato, bater panela e ficar com a consciência tranquila. Mas aqui, no mundo real, na vida de verdade, fora do tribunal, deixa eu te contar como é:
Ontem, no trabalho, aconteceu a eleição para diretor (e vice) da escola. Era chapa única, meu chapa.
As eleições da Gestão Democrática me deixam angustiada quanto ao processo.

Nas escolas, eleição não é via internet e debate não é obrigatório, nem divulgado na mídia. As propostas (olha a sopa de letrinhas!!!) são apresentadas à comunidade.

Disso resulta um esqueleto, daqueles do dia dos mortos, no México: capenga e colorido.

O esqueleto não tem carne, não conta com a participação efetiva da comunidade; não tem músculos, não tem força; é desengonçado, não tem sinergia e coordenação de movimento.

A democracia na escola, sem debate, sem participação efetiva, feita pelo voto vazio, só pra "se vier um interventor é pior" nasce morta, invalida o discurso, apoia um Brasil preguiçoso, leniente, achincalhado.

No entanto, continuamos vivos, comemorando o dia dos mortos.


segunda-feira

O que, de fato, é ser mãe solteira

Não. Não é fácil.

Eu tenho muito orgulho de ser mãe, de ser mãe do meu filho, e tenho orgulho sim de dizer que sou mãe solteira.


Com ele sou mais forte, responsável; depois dele, amadureci.

Desde o começo fiz tudo sozinha, o pai dele nunca me acompanhou em nada, nem ligou pra perguntar se estava tudo bem. Hoje, a participação dele é a de um coadjuvante, o progenitor, a ajuda financeira obrigatória. Quero crer que temos uma relação amigável. Claro que eu gostaria que ele se fizesse mais presente, mas como desde o começo ele nunca quis a gestação, eu não posso querer muito mais do que ele já faz.

Uma fase muito complicada foi fazer o pré-natal, ir nas ultrasons, montar o enxoval, escolher/comprar tudo, é um período tão importante e eu passei por ele sozinha.

Quando acontece alguma coisa mesmo incrível (engatinhar, sentar, primeiros passos, palavras) não tem ninguém ali pra dividir o momento, pra vibrar, ou rir, ou chorar.

O peso é grande, todas as responsabilidades, contas, a criação, o cuidado. Não tem com quem dividir. Claro, a família ajuda e qualquer ajuda é agradecida, mas não há com quem dividir as tarefas.

É você quem dá banho, lava e limpa, troca as roupas, as fraldas, coloca pra dormir, brinca quando acorda !e você queria mais 5 minutinhos só), leva e busca na escola (até quando c tá enrolada), da comida, leva ao médico, faz exames, vai às reuniões, festinhas, compra material, presentes, roupa, leva pra tomar vacina, v se escovou os dentes, le uma história, leva no pula-pula, canta.... TUDO É VOCÊ.

Além de trabalhar fora, ficar linda e não enlouquecer :)

Dormir até meio dia no sábado? jamais! Eu ia perder o soriso mais lindo do mundo ao ver o sol ...

Casa/quarto arrumadinho? não mesmo! Eu ia perder o último capotamento do fusca que a titia deu ano passado...

Dormir sozinha na camona? qual o quê! Eu ia ser derrotada na disputa de quem dorme na cama...

Mesmo assim, sozinha, existem dias bons, ruins, fáceis, difíceis. O que, exatamente eu quero dizer é: vale a pena, cada momento com ele vale a pena. Vê-lo crescer, deixar de ser um bebê, passar a ser um menino, a falar, a andar, a contar, tudo. É um mistério lindo acontecendo.



Inspirado em uma aluna grávida: FORÇA, CORAGEM e PERSISTÊNCIA.

quinta-feira

A deusa que mora em mim saúda a deusa que mora em você

".. era uma mulher bela, elegante e vigorosa, não havia nenhuma outra como ela em todo o pais, (pois) a força de uma deusa estava nela..."

Escrito para a eternidade...
:)

terça-feira

Pai de aniversário - ausência de pai

Ontem foi aniversário do meu pai.
Abrimos um vinho no almoço, conversamos bobeira, gritamos um pouco na mesa e essa coisa toda de casa de italianos.

Mas neste ano, estranhamente, meu pai sentou-se, quase ausente no sofá. Chegou à conclusão, de lá, que, aos 65, estava ficando um pouco velho.

E deu saudade do meu pai...

Pai ausente dá saudade, bom mesmo é o pai de hoje, presente, que abraça, que dá beijo quando chega e pergunta pro netinho:
- "Quem chegô?"
...E é um mundo de sorrisos, do menino grande e do menino pequeno.

Amo meu pai aqui, no dia de hoje, todo dia.

Quando ele não está, nessas festas de família,
é um outro homem distante, que não conheço,
frio, não o (re)conheço.

Nesses dias de ausência nem precisaa ter pai.
Pai é de todo dia.

O pai de aniversário é um homem sisudo, muito chato e estranho.

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sábado

eu, Gigliola

O povo fica nervoso quando eu uso o Fernanda pra facilitar a minha vida...

Tava eu pedindo uma coisa qualquer, mcds ou skys ou giraffas... qualquer um desses, nem lembro. O fato é que eu tava cheeeeeeeeeeeeeia de diários e alunos e correções, o inferno, e tinha que comer.

Em meia hora chegou o moto boy:

- É pra Fernanda.
- Tem Feranda aqui na escola não.
- Tem. Ela pediu lá e deu esse endereço e telefone. A gente confirma. Acha a Fernanda aí porque se não eu tenho que pagar.

- Moço, não tem Fernanda na escola!!
- Teeeeeeeeeeeem, ela é a professora de espanhol diz aqui...
:)

quinta-feira

menino pequeno, menino grande

Vejo um homem e um menino.

Tenho saudade do MEU menino, não por causa do menino que vejo em minha frente, mas pelo homem emque o meu menino irá se tornar.

Será sábio?
teimoso?
corajoso?
destemido?
paciente?

domingo

Highway To Hell

36 provas pra fazer, um gatão de um ano pra brincar...

"...No stop signs, speedin' limit,
Nobody's gonna slow me down
Like a wheel, gonna spin it
... Nobody's gonna mess me 'round..

....Hey mama! Look at me
I'm on my way to the promise land..."

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quarta-feira

Bebedeira que produz ideias

Eu ADORO essa bebedeira!!!


Por baixo do verniz civilizatório, todo homem tem dentro de si um animal à espreita. O que nos mantém sob esse verniz é o amor que temos por nós, por nossa família, pelas pessoas que nos cercam.

Eu tenho o otimismo como virtude?

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Um pouco do Eu

A TODOS...

A todos trato muito bem
sou cordial, educada, quase sensata,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
expulsa do paraiso
uma mulher sem juízo, que não se comove
com nada
cruel e refinada
que não merece ir pro céu, uma vilã de novela
mas bela, e até mesmo culta
estranha, com tantos amigos
e amada, bem vestida e respeitada
aqui entre nós
melhor que ser boazinha é não poder ser imitada.

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segunda-feira

Grimórios, Livros das Sombras, palavras, música e movimento.

" Quando estive grávida dos meus três bebês a situação mais constante e que sempre se repetiu foram as visitas da família, para ajudar nos preparativos, para trazer presentes, para aconselhar e transmitir seus conhecimentos, todos contagiados pela emoção de mais uma presença entre nós."

'Põe Antônio dessa vez, teu pai era prá ter sido Antônio e não Fernando. Já tem 2 Luzias e já 3 Fernandos da família de tua mãe... já viu o sexo com a agulha? É fácil, a agulha pendurada na linha, segura a linha imóvel com a agulha na direção da palma da mão da grávida. A agulha mexe sozinha, se mexer como redemoinho é menina, se pendular é menino.' Essa é batata nunca errei numa predição com agulha.

Assim aprendemos a colar o papelzinho na testa para curar o soluço, a aplicarmos funcho quando dá cólica e a dar leite de cabra, quando o humano não é possível. E sei que isso é comum a muitas famílias. O que não sei é se algumas dessas famílias escreviam sobre isso e entregavam num formato de “grande livro da sabedoria da família”, para a próxima grávida.

Os hábitos, crenças e costumes se fundamentaram em algum tipo de experimentação acertada e se tornou sabedoria. Sempre esteve lá e sempre estará, com ou sem livros.
Não há nessas palavras nenhuma intenção de colocar esses exemplos como conhecimentos característicos de bruxaria familiar. Nesse momento esses exemplos estão sendo utilizados para figurar as questões de sabedoria por transmissão oral e prática. Esse tipo de aprendizado permanece, mesmo com toda tecnologia e especializações caríssimas: na hora da preocupação, por ver um filho enfermo e em prantos sem melhora esquecemos todos os nojinhos e partimos prás receitas de família, em paralelo à sofisticação dos medicamentos, ou já como recurso de desespero.

Chá de semente de abóbora para vermes, pétalas de rosas brancas para cândida. O que cura bico do peito rachado pelos primeiros dias de mama do bebê sem química é casca de banana. Quem conhece a prática do talo de couve embebido no azeite? Se é razoável ou não...? Vai morar longe da tecnologia e só depois responda.
Qualquer resposta sem vivenciar o contexto estará limitadora, incompleta e imprecisa.
Sinto isso quando alguém se põe a explicar sobre algumas integridades do universo pagão.

Não tem como explicar por escrito o vôo do pássaro no presságio. No meu humilde entender desenvolvido pelas minhas próprias experiências, a triagem ao desejar penetrar a um caminho diferente do seu contexto, começa pelo saber ouvir. A aquele que não sabe “ouvir” logo desiste. Depois vem o saber perguntar.

A pergunta de quem quer ouvir a resposta é desprovida de desafios mas é permeada por pensamentos fervilhantes e cheios de energia de quem deseja apreender o “link” daquilo que é só implícito, a terceira, aparentemente tão simplória, é regida pelo comprometimento.

Estar presente em data e condições estabelecidos.

Pode passar pelo ouvido e pela boca, mas se ficar no quesito empenho, significa que nada ouviu e que nada apreendeu.

Ainda que escritas em letras de ouro, palavras limitam, ainda bem que existe a música e o movimento.


Márcia Nogueira - Alba

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quinta-feira

Eu, que não sou nada, nada sei...

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei

Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso

Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

Zeca Baleiro - Quase nada

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segunda-feira

Cantico IV

Tu tens um medo:
acabar.

Nao ves que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na duvida.
No desejo.

Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na duvida.
No desejo.

Que es sempre outro.
Que es sempre o mesmo.
Que morreras por idades imensas.
Ate nao teres medo de medo.
E entao seras eterno.

Cecilia Meireles

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quarta-feira

Vícios

"O senhor veja, um boneco de capim, vestido com um paletó velho e um chapéu roto, e com os braços de pau abertos em cruz, no arrozal, não é mamulengo? o passopreto vê e não vem, os passarinhos se piam de distancia.

Homem é.

O senhor nunca pense em cheio no demo."

Riobaldo
Grande Sertão Veredas

domingo

Olho de gato

"Em seu olhar firme resplandece uma eloquencia silenciosa que fala de amor, lealdade, força e coragem.
É janela que revela o quanto é disposto o seu espírito, o quanto é generoso o seu coração."

segunda-feira

Palabras

En el reparto del dia
tu presencia es un hito

juntos somos carne, hueso y sentimiento

No, no tengo anoranza alguna de mi vida andariega,
hurgando aca, alla, en las rejas,, las personas, los hogares.

Nuestros nudos son mas interesantes!

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sábado

Facebook

Es común oír que una imagen vale más que mil palabras, o que no hay palabras que puedam expresar algo.

Y hay más:
un toque,
una mirada,
una sonrisa,
el tono de la voz.

De hecho, creo, la mayor parte de la comunicacíon humana ocurre en un nivel no verbal.
Las palabras poseen sólo una relevancia indirecta.

Sin embargo, hoy, se primacían a las palabras... Y el Twitter??!!!
Las palabras y que sean solo 140 dígitos!!!!???

En el caso de culturas muy cercanas, la española y la brasileña, la percepción se torna aún más difícil...

Nuestras conductas,
personales y colectivas,
conciente o inconsciente,
Nuestras creencias... todo emite información.

Información de cosméticos, perfumes, tipo de ropa, los espacios, la decoración, el color, olores corporales, expresiones faciales... ni el beso revela tanto...

Maneras dicen la cultura, edad, genero (y opciones sexuales), estado emocional, nivel socioeconomico, etc. Las manos y la cara son dos partes del cuerpo que más información suministran...

Del otro, no se conoce nada... sino sus palabras.



Ahora, miro los contextos todos, dados por las palabras, y tendremos que tener confianza en ellas.. deseo ampliación de mi competencia comunicativa... :)

S.O.S. Mãe Solteira: SOS Mãe Solteira

S.O.S. Mãe Solteira: SOS Mãe Solteira: "SOS Mãe Solteira Por que SOS? Em inglês Save Our Souls significa salve nossas almas. Creio que, assim como eu, você, mãe solteira, pede ou p..."

quinta-feira

Diplomatizzando: Um manifesto em favor de um criminoso: uma peticao...

Diplomatizzando: Um manifesto em favor de um criminoso: uma peticao...: "Recebi, de um correspondente de internet cuja identidade não vem ao caso, a petição abaixo transcrita, cujos termos repudio da maneira mais ..."

quarta-feira

Ciclistazinho lazarento

Um ciclistazinho lazarento de meia tijela me atropelou ano passado. Isso me deixou sem humor e, como uma coisa é, necessáriamente, consequencia da outra: Fogo farto pra gente goísta que abandona crianças à própria sorte.

Entro nesses sites de relacionamento e vejo os perfis dos ratos. Não sei se vocês sabem, mas nessas horas o tempo para e vaaaarias coisas passam pela cabeça "por que estou vendo isso?" "quem é essa pessoa?" "O que eu vou dar de presente para o meu pai?", e toda a sorte de outras coisas.

Após todos os questionamentos que passam pela minha cabeça nesses instantes, eu percebo que o fato é que o monstro ainda está ali. Escondendo seu sorriso patético atrás de rodas de bicicletas "da paz".

Veja o que não fazer na sua existência, na próxima né, porque essa já era: seja homem, não seja rato; não se pareça com um rato, não aja como um rato.

Vocês podem imaginar que, no fundo, eu me divirto. Em dias de bom humor, claro. Nasci nos anos 70, vi nos muros da minha cidade o movimento das "diretas já", eu conheci Ulisses Guimarães. Minha adolescencia foi numa cidade virtual, montada para o poder, envelheci ouvindo discursos. Todas as dificuldades imagináveis me fizeram amadurecer cedo, perceber discursos vazios.

Quando soube que estava grávida, após o susto todo e toda a confusão, decidi que faria tudo o que fosse preciso para conseguir oferecer ao Tito conforto e dignidade. Vencer, o que para muitos é sonho, para mim, a partir daquele momento, virou única realidade.

Meu combustível: Tito; Minha determinação: Tito; Meu suporte: Tito; Meu destino: Tito; Minha coragem: Tito. Invariavelmente.

Talvez o que nos contrasta me estimule a essa reflexão, não vou julgar seu mérito, se é que há algum. A questão toda é: por que eu ainda me preocupo com isso? Porque há uma balança em desequilíbrio e o lado mais pesado é o meu. Porque há dias em que eu não posso contar com ninguém, a não ser comigo. E, principalmente, porque eu não viro as costas e ligo o foda-se, como fazem os ratos.

Tenho TUDO que preciso.

Indiferença, impunidade, covardia... isso existe e está escondido atrás dos discursos vazios e das rodas das bicicletas.

terça-feira

Eclipse que não vimos

Houve uma época em que o homens viviam bem mais próximos do céu. E o Céu, dos homens.

Os céus eram mágicos, a morada dos deuses. O significado da vida e da morte, a previsão do futuro, o destino dos homens, tanto dos líderes quanto de seus súditos, estavam escritos nos astros.

Fenômenos celestes inesperados eram profundamente temidos. entre eles, os eclipses eram dos piores: se os deuses podiam apagar o Sol por alguns minutos, certamente poderiam fazê-lo permanentemente...

domingo

Presente de ano novo

"... temos vergonha de você ser nossa filha..."

Como previa o famigerado Guimarães: o que a vida exige mesmo da gente é coragem!

:(

quinta-feira

(des)educação...

quarta-feira

Titia Manu quem me deu

Dizes que sou o futuro.
Não me desampares no presente.
Dizes que sou a esperança da paz,
Não me induzas à guerra.
Dizes que sou a promessa do bem,
Não me confies ao mal.
Dizes que sou a luz dos teus olhos,
Não me abandones ás trevas.
Não espero somente o teu pão,
Dá-me luz e entendimento.
Não desejo tão só a festa do teu carinho,
Suplico-te amor com que me eduques.
Não te rogo apenas brinquedos,
Peço-te bons exemplos e boas palavras.
Não sou simples ornamento de teu carinho,
Sou alguém que te bate à porta em nome de Deus.
Ensina-me o trabalho e a humildade, o devotamento e o perdão.
Compadece-te de mim e orienta-me para o que seja bom e justo.


Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Antologia da criança.

terça-feira

Pó compacto

Definitivamente esse não é o momento para usar o look natural. è hora de usar todos os truques dos cosméticos para me sentir bem. Faço isso todos os dias, assim que levanto, antes de perder o impulso.

Se eu consigo fazer uma maquiagem em 5 min com o carro em movimento a 80km/h, consigo colocar uma base, batom e rimel antes do dia começar... (sim, pq se eu deixar pra mais tarde, nem lembro...)

Faz uma diferença drástica no modo como me sinto com relação a mim mesma.

Sinceramente, vou com tudo, todos os cremes com retinol sao bem vindos...

segunda-feira

Meu lindo pacotinho

Tudo bem, então agora que a espera acabou e meu pacotinho chegou, o que devo fazer a seguir?

Território absolutamente virgem pra mim...

Por um lado, há dezenas de motivos pra ter um colapso nervoso: alterações de humor, seios inchados, vazando, privação do meu precioso sono, sensação de insegurança extrema e receio de ser incapaz...

Por outro lado, sinto esse imenso e avassalador impulso de amor... Ele tem um rostinho adorável, mãozinhas lindas, pele acetinada. Eu estou feliz, apesar de ter o mundo desmoronando ao meu redor.

Penso que talvez esse não seja um bom começo para um bebê, ter uma momys assim, mas de certo modo é bom. É quase verão, a gente se olha nos olhos todo dia cedinho e dá coragem um para o outro com o sol entrando mansinho pela janela do quarto da vovó.

O tempo está lindo em Brasília, eu não estou trabalhando, tenho um bebê perfeito, todas as manhãs eu acordo e vejo seu rostinho lindo e feliz - grandes olhos azuis em um rostinho redondo e querido - e meu coração pula de alegria.

Quando ele chora, reafirmo: estou aqui pra resolver seus problemas, dou um monte de beijinhos estalados, carinho... e ele se acalma. Ele tem um ótimo apetite, mama com vontade e é saudável. É alerta, ativo, paciente e encantador. Vai ser um bom mochileiro.

Antes que você resolva me odiar por ter tido tanta sorte, pense nisto: ele tinha de ser bomzinho. Eu sou um total desastre emocional e, com certeza, não adquiri a flexibilidade necessária para lidar com qualquer coisa tão boa quanto uma cólica... ele sabe disso. Então facilitou as coisas pra mim.

Essa é a minha hora de me apaixonar loucamente, de ficar horas na cama admirando cada centímetro do corpinho dele, de fitar aqueles olhinhos que acabaram de se abrir e ver a maravilhosa criatura que eu trouxe ao mundo. É minha hora de beijar, abraçar, aconchegar, cantar, embalar e abrigar.

Resumindo: essa fasevai ser um tesouro estupendo.

domingo

Pós

O dia seguinte a uma cesariana é bem difícil, mas ninguém diz isso. Comecei vomitando e segui assim durante dois dias, tremia como uma folha e sentia um frio gélido, e fiquei assim durante mais de uma hora.

Resumindo: passei do estado de êxtase para o de choque. Sei lá como cheguei ao meu quarto, tão pouco como deitei na cama, - três dias e eu pálida, confusa, drogada e com uma aparência horrenda.

Cabelos despenteados, olhos injetados, rosto inchado de drogas e cânula de soro presa ao braço, eu não era exatamente um modelo de poster de parto natural...

Depois do choque, eu mal podia esperar para ver o meu pacotinho.

Disso tudo eu só posso dizer: não esqueça de respirar!!!

terça-feira

Enfeitando

De qualquer lado que eu me vire ainda pareço uma bola de praia. Há pouco que eu possa fazer a respeito, além de dar à luz.

Enquanto isso não acontece, me enfeito.

Faço qualquer coisa para desviar o olhar desse imenso centro de atenção: minha barriga. Nem ando me dando ao trabalho de comprar sapatos novos porque meus pés estão parecendo uma batata inglesa, das grandes, além do que, não consigo mais vê-los.

Se começasse a chover e ventar muito muito, usaria echarpes maravilhosas e meias coloridas... mas, como é quase verão, não consigo nem em pensamento tolerar algo tocando a minha pele.

Comprei alguns enfeites de cabelo, presilhas para prendê-lo.

Brincos extravagantes eu não consigo usar, nem nada no pescoço...

Pareço estar do tamanho de um elefante e pequenas tarefas da vida são quase impossíveis. Peço ajuda a todo mundo, mas minha momys não contribui muito (ela teve 4, somos lindos, mas admito, ela foi heroína).

Há um dano psicótico que me leva a decorar, lavar, passar e dobrar quase tudo o que vejo.

Devido à banheira de hormônios em que estou mergulhada, minha memória entrou em operação tartaruga ou fez uma greve geral. Perco a bolsa, a data de entrada de cheques, o dia do pagamento do aluguel... Outro dia não sabia mais onde tinha estacionado o carro, dia em que decidi não dirigir mais.

Fico impressionada de não ter acabado com o carro porque simplesmente esquecia que estava dirigindo enquando pensava se Tito, ou Alexandre, ou Lance, ou Ginno eram bons nomes ... névoa de progesterona...

Preciso de alguém para me ajudar a me vestir, para dirigir meu carro, colocar as contas em dia e a minha bolsa em um lugar bem visível.

Eu tenho outras coisas para fazer. Estou grávida.

segunda-feira

Cidadania sagrada

No início, a terra era sagrada.

Tudo o que havia na terra era sagrado: as árvores, os rios, o sol, a lua, o mar… Sagradas também eram as pessoas, a casa, a tribo, a história e a memória da tribo.

No início, o amor à terra, as virtudes, a lealdade e a coragem eram valores sagrados. O rei tinha um compromisso com a terra: amar, proteger, cuidar. As pessoas - que eram os filhos da terra e do rei – admiravam e respeitavam seu líder, que era o melhor caçador, o mais bravo guerreiro ou o mais sábio administrador das colheitas.

No início, havia pessoas que viviam para conhecer e ensinar o sagrado. Xamãs, magos, feiticeiros, druidas, sacerdotes, pajés… Não importa como eram chamados em suas sociedades, eles tinham a sagrada missão de contar a história e as lendas de sua tribo, de orientar seu povo e de educar o rei e os jovens guerreiros.

No início, a terra era de todos e para todos, e nós éramos divinos e sagrados.

Então veio um tempo triste, em que os antigos Deuses do sol, da lua, da terra e do conhecimento foram acusados de “demônios”; seus xamãs e sacerdotes foram mortos, seus cultos, proibidos…

Sem a sabedoria milenar dos sacerdotes para educar o povo, as pessoas se esqueceram de sua herança ancestral. Surgiram líderes egoístas e irresponsáveis, que não se importavam com a terra e o povo. A terra foi vilipendiada. Monumentos sagrados foram destruídos, florestas devastadas, culturas inteiras foram extintas…

Hoje, a Mãe Terra chama seus filhos. Sacerdotes da natureza - xamãs, magos, feiticeiros, druidas, pajés - é hora reacendermos o Fogo Sagrado do amor à terra nos corações de nossas tribos; é hora de vivificarmos nosso povo novamente.

É hora de cuidarmos de nossa casa.

Brasil, 07 de setembro de 2010.