Podilê

Este blog é um diário das minhas intempéries.

segunda-feira

Por que eu não torço contra os argentinos

Los hermanos” jogam um belíssimo futebol. Como nós, brasileiros, sempre jogamos, antes da era retranqueira de Dunga e Parreira. Mas não é só pela bola no pé que eu não torço contra os argentinos. O cinema e a literatura deles são melhores. (A dramaticidade deles é muito latina).
Diferença:



Não consigo deixar de torcer pela Argentina quando o adversário é qualquer outro que não seja o Brasil. Nem com toda a rivalidade histórica pela hegemonia econômica na América Latina – um jogo que os argentinos perdem hoje de goleada dos brasileiros. Nem com toda a irritação durante décadas diante da ignorância de europeus e americanos, que chamavam a capital do Brasil de Buenos Aires e nos respondiam em castelhano. Nem quando os argentinos, que não convivem com negros, começaram a chamar os brasileiros de “macaquitos”, na final do Sul-Americano em 1937, em Buenos Aires (De Sábato, do Quilmes, foi preso em 2005 por chamar de macaquito Grafite, do São Paulo, na Libertadores). Não parei de torcer pelos hermanos nem depois que Maradona deu um pontapé em Batista e foi expulso, em 1982, na Copa da Espanha – o Brasil ganhou de 3 a 1. Em 1990, um massagista argentino deu água com um pouco de sonífero para o Branco. Mas, quando a Argentina estreou agora contra a Nigéria, torci por eles. A eterna polêmica entre o bufão carismático Maradona e o rei Pelé não me impediu tampouco de admirar o jogo ofensivo de Messi, Higuaín, Tevez e Aguero contra a Coreia do Sul. Quem sabe a goleada argentina ajude a despertar o gigante adormecido de Dunga.

Não os acho soberbos.

Eles são profissionais no turismo e na gastronomia. Além de bonitos, os argentinos são galanteadores. Discutem política. Perguntam. São um povo que lê, respeita o idioma e sabe falar, dos pobres à elite. Um país que investiu na educação. Não é por acaso que os geniais Ernesto Sábato, Júlio Cortazar e Jorge Luís Borges são argentinos. E no cinema, hoje, dão de dez nos brasileiros. O filme mais incensado por nós neste ano foi o argentino O segredo de seus olhos, que ganhou o Oscar de estrangeiros. Por que nosso cinema só tem favela, violência e às vezes um humor pastelão? Onde estão os diálogos inteligentes, a sutileza e os dramas das relações humanas? Estão nos filmes argentinos.

Torço para disputar a final contra los hermanos.