MM - Mais Montesquieu

Um hábito idiota dos povos é o de atribuir ao rei o que eles fazes. Eles se batem. De que é a glória? Do rei. Pagam. Quem é magnificente? O rei. E o povo gosta que ele seja tão rico assim. O rei recebe dos pobres um escudo e dá aos pobre um vintém. Como é generoso! O colosso pedestal constempla o pigmeu que lhe está em cima. Como este mirmidão é grande! Está em cima das minhas costas. Um anão tem um modo excelente de ser mais alto que um gigante e é o de se atirar aos seus ombros. Mas que o gigante o deixe fazer, eis o que é singular; e que admire a grandeza do anão, isto é cretino. Estupidez humana.

O amor dos ingleses pela sua liberdade se complica com certa aceitação da servidão alheia. Esta benevolência para com as correntes que encadeiam o vizinho vai algumas vezes até o entusiasmo pelo déspota do lado fronteiro.

... e isto que faz com que em suma esses pobres diabos sejam pouco responsáveis. Quem não é dono de seu pensamento não é dono de sua ação. Um rei obedece.
A quem?
A uma alma danada qualquer que, do lado de fora, lhe zumbe à altura da orelha. Mosca sombria do abismo.
Este zumbido comanda. Um reinado é um ditado.
A voz alta é o soberano: a voz baixa é a soberania.
Os que, num reinado, sabem distinguir esta voz baixa e ouvir o que ela sopra à voz alta, são os verdadeiros historiadores.

Quando o rei é ignorante, somos obrigados a achincalhar os sábios.