Podilê

Este blog é um diário das minhas intempéries.

quarta-feira

Tempestade de ideias e sentimentos.

Eu, eu e eu.
Partiram para uma viagem mais abstrata que precisa. Fecharam suas casas, guardaram as fotos que nos incluíam e se foram. Levaram nossas confissões, nossa lucidez, nossos inúteis choros, nossas lágrimas de riso, e até nossa virgindade.

Não pudemos entregar os anos seguintes de nossa única e verdadeira possessão: a crônica de uma vida cheia de odores e sabores que, sem eles, não serão os mesmos.

Sabíamos, nós, pelo que estavam passando? Silêncio e letargia.

Não queríamos esquecer os primeiros apegos. Não estávamos dispostos a perdê-los. Por quê????
Porque herdamos seus livros, suas antigas receitas de cozinha, suas manias, seus gostos pelo vinho, suas roupas, seus lençóis, até seus amigos... Fechamos os olhos e voltamos a fazer amor com os mesmos edifícios habitados por novos rostos. Liberamos aqueles antigos corpos e os deixamos partir para deixarmo-nos amar, domesticar e cativar de novo, cautelosamente. Elevamos as suas almas e buscando uma senha, encontramos um conforto. Se abriu um novo espaço em nosso cotidiano. Adminitos esses amores em emergência, vigiados, controlados, mantidos, presos.

Mas junto aos nossos amores em emergência, envelhecemos e compartilhamos os pequenos espaços de incerteza diária.

(Inspirado no espetáculo de balé Cia Ícaro de Balé Clássico)

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