Podilê

Este blog é um diário das minhas intempéries.

segunda-feira

Grimórios, Livros das Sombras, palavras, música e movimento.

" Quando estive grávida dos meus três bebês a situação mais constante e que sempre se repetiu foram as visitas da família, para ajudar nos preparativos, para trazer presentes, para aconselhar e transmitir seus conhecimentos, todos contagiados pela emoção de mais uma presença entre nós."

'Põe Antônio dessa vez, teu pai era prá ter sido Antônio e não Fernando. Já tem 2 Luzias e já 3 Fernandos da família de tua mãe... já viu o sexo com a agulha? É fácil, a agulha pendurada na linha, segura a linha imóvel com a agulha na direção da palma da mão da grávida. A agulha mexe sozinha, se mexer como redemoinho é menina, se pendular é menino.' Essa é batata nunca errei numa predição com agulha.

Assim aprendemos a colar o papelzinho na testa para curar o soluço, a aplicarmos funcho quando dá cólica e a dar leite de cabra, quando o humano não é possível. E sei que isso é comum a muitas famílias. O que não sei é se algumas dessas famílias escreviam sobre isso e entregavam num formato de “grande livro da sabedoria da família”, para a próxima grávida.

Os hábitos, crenças e costumes se fundamentaram em algum tipo de experimentação acertada e se tornou sabedoria. Sempre esteve lá e sempre estará, com ou sem livros.
Não há nessas palavras nenhuma intenção de colocar esses exemplos como conhecimentos característicos de bruxaria familiar. Nesse momento esses exemplos estão sendo utilizados para figurar as questões de sabedoria por transmissão oral e prática. Esse tipo de aprendizado permanece, mesmo com toda tecnologia e especializações caríssimas: na hora da preocupação, por ver um filho enfermo e em prantos sem melhora esquecemos todos os nojinhos e partimos prás receitas de família, em paralelo à sofisticação dos medicamentos, ou já como recurso de desespero.

Chá de semente de abóbora para vermes, pétalas de rosas brancas para cândida. O que cura bico do peito rachado pelos primeiros dias de mama do bebê sem química é casca de banana. Quem conhece a prática do talo de couve embebido no azeite? Se é razoável ou não...? Vai morar longe da tecnologia e só depois responda.
Qualquer resposta sem vivenciar o contexto estará limitadora, incompleta e imprecisa.
Sinto isso quando alguém se põe a explicar sobre algumas integridades do universo pagão.

Não tem como explicar por escrito o vôo do pássaro no presságio. No meu humilde entender desenvolvido pelas minhas próprias experiências, a triagem ao desejar penetrar a um caminho diferente do seu contexto, começa pelo saber ouvir. A aquele que não sabe “ouvir” logo desiste. Depois vem o saber perguntar.

A pergunta de quem quer ouvir a resposta é desprovida de desafios mas é permeada por pensamentos fervilhantes e cheios de energia de quem deseja apreender o “link” daquilo que é só implícito, a terceira, aparentemente tão simplória, é regida pelo comprometimento.

Estar presente em data e condições estabelecidos.

Pode passar pelo ouvido e pela boca, mas se ficar no quesito empenho, significa que nada ouviu e que nada apreendeu.

Ainda que escritas em letras de ouro, palavras limitam, ainda bem que existe a música e o movimento.


Márcia Nogueira - Alba

Marcadores: