Cultura do "tudo acabará bem"
Hoje fui na Cultura.
Passeei demoradamente entre as prateleiras como de costume. Daí acabei com um livrinho do carlos drummond, para namorados é o nome.
Tem aquelas poesias lidas "Te amo porque te amo"... etc. E eu, inacreditavelmente (porque eu adorava ler poesia romantica), folheei o livro e larquei ali de volta, sem o menor interesse.
Falar de amor é fácil quando c tá amando, tudo vai dar certo e vale a pena qualquer coisa.
Tenho pra mim que é por causa dessa cultura do "Eu amo você" que este país não vai pra frente.
A gente ganha pouco, mas no final valerá o esforço, e o final nunca chega.
O cara trai, mas ele namora mesmo é com você, e você nunca toma uma providência e segue traída e chorona.
A menina não respeita, é mal educada, mas é bonita, e todos dizem, mas é tão bonitinha a bonita.
O presidente vai mexer na sua poupança, mas é pro país ir pra frente.
Às favas com o "Eu te amo"!
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
CDA - Os Ombros Suportam o Mundo
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