Podilê

Este blog é um diário das minhas intempéries.

domingo

Eu sou otimista. Os realistas são, geralmente, oportunistas.

Outro dia tava eu vendo um filme que definitivamente não entendi. Chama-se "Feira das vaidades".É uma história de uma menina, filha de uma cantora de ópera, que quer porque quer ascener socialmente. Daí que a tal tem um marido que é um fofo, conhece Deus e o mundo, tem um filho filho do sol e... não está bom.

Não, não é o bem contra o mal. A mocinha (que não é, eu diria, uma mocinha de filmes românticos) se dá bem no final porque a vida é assim - já dizia Gregório de Matos: que "só pra mim anda o mundo consertado." - e no final tudo acaba bem, porque é um filme no final das contas.

Mas veja bem porque eu digo que o boca do inferno não tinha razão: essa tal, a do filme, aproveita todas as oportunidades que tem, sofre um bocadinho, usa todos e se dá muito bem.

A outra, a amiga dela, sofre igualzinho, encontra um grande amor, não usa ninguém e no final também se dá muito bem.

Parece não haver diferença. Parece não ter importância, mas tem, mas há.

Poderia dizer que tem porque enquanto uma não justifica a sua existência com nada perene - nem um amor, nem uma lembrança para as futuras gerações, nem a fortuna acumulada, nada além disto: do agora - a outra viveu um grande amor. Só. Poderia ser essa é a única diferença, tênua, frágil, legítima...

Mas não é.

A diferença reside no apego que uma e outra tem ao que constrõem. A 1a., a tal, teve tudo, até um amor verdadeiro. E jogou fora. A 2a., quando teve, não disperdiçou. Deixou livre, mas aqueceu em seu coração o sentimento amoroso do outro, a consideração do outro, respeitou os limites - seus e do outro - , as ideologias - suas e do outro, as individualidades.

É muito fácil confundir felicidade com desejo.

E só é simples assim porque quando desejamos não vemos o outro na nossa frente. O que vemos é o espelho de nós.

Muito diferente de quando é a felicidade que encontramos, que nem sempre se alia com nossos desejos, mas é capaz, sobretudo, de se somar a eles, transcendê-los e nos mostrar essa transcendência.