Monarquia vista por Victor Hugo
Sobre leis e política (O homem que ri, pág. 340-397)
Se o caos se mete a arquiteto, e edifício será Babel.
E depois, que tirania esta pretensa liberdade! Quanto a mim, quero divertir-me, não governar. Votar me aborrece, prefiro dançar.
Que providência, haver um príncipe que se incumbe de tudo! Certamente que o rei é generoso, ao tomar a si todas essas penas. E além do mais, ele foi educado dentro disso, sabe de que se trata. É a sua missão. A paz, a guerra, a legislação, as finanças, em que interessa isso tudo aos povos?
Sem dúvida é preciso que o povo pague, sem dúvida é preciso que o povo sirva, mas isto lhe deve bastar. Uma parte lhe está reservada na política: é dele que saem as duas forças do Estado, o exército e o orçamento. Ser contribuinte e ser soldado, não bastará isso? O povo é o braço militar, é o braço financeiro. Papel Magnífico. Reinam por ele. É preciso que ele retribua esse serviço.
Imposto e lista civil são salários pagos pelo povo e ganhos pelos príncipes. O povo dá seu sangue e seu dinheiro, por meio do que se lhe proporciona a direção.
Querer dirigir-se por si mesmo, que idéia bizarra! Ele precisa de um guia. Sendo ignorante, o povo é cego. E o cego acaso não tem um cão? Somente, para o povo, é um leão, o rei, que consente em ser o cão de guia. Quanta bondade!
Mas por que é o povo ignorante? Porque é preciso que ele o seja. A ignorância é a guardiã da virtude. Onde não há perspectivas não há ambições; o ignorante está numa noite útil que, suprimindo o olhar, suprime as cobiças.
Daí, a inocência.
Quem lê pensa, quem pensa raciocina. Não raciocinar é o dever; é também felicidade. Estas verdades são incontestáveis. A sociedade está assentada sobre tais alicerces.
Sob este reinado, ainda que relativamente bonachão, o recrutamento para a armada se fez com violência extrema: prova sombria de que o inglês é antes o súdito que o cidadão.
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