Entre querer ser jornalista e PODER ser jornalista
Há, no começo de D. Quixote, um episódio cômico, que se aplica muito bem ao nosso Brasil: O senhor Netuno.
O louco recorre ao bispo para ser libertado do hospício, afirmando - numa carta razoabilíssima - ser sadio e, portanto, mantido arbitrariamente segregado do mundo.
O arcebispo envia uma pessoa de sua confiança, que se convence de estar realmente em
face de um homem de mente sadia, até que - quando o pretenso sadio se despede dos seus amigos do hospício - ocorre a catástrofe.
Um louco, que afirma ser Júpiter, ameaça, se o amigo for embora, de não mais fazer chover sobre a terra.
O amigo, temendo que o enviado do bispo recue de seu propósito de libertá-lo diz:
"Não se aflija, porque se ele é Júpiter e não quer que chova, eu sou Netuno e mandarei chover tanto quanto me der na gana.
E assim é entre a imprensa e o governo. Cada qual mais Netuno e Júpiter que o outro.
Que há ignorância todos sabem, nosso presidente é o próprio Senhor Netuno.
Que os ignorantes pudessem existir, publicar, mudar a ortografia, ser presidente, ignorar a formação teórica em nome de alguma razoabilidade, nada de estranho.
Mas que passem a ser um pilar de modernidade, que tenham encontrado “espontaneamente” um grande público, eis algo que precisa URGENTEMENTE ser analisado.
Eis algo que nos leva a refletir sobre a debilidade, mesmo em épocas normais, dos
obstáculos críticos que, não obstante, sempre acreditei existirem.
Deve-se pensar sobre como, em épocas anormais, de desencadeamento de paixões – e vejam, somos um povo apaixonado na bonança, quem dirá a conseqüência de em uma tempestade – como seria fácil aos ignorantes serem apoiados por forças interessadas.
medo... terro e tristeza...
Marcadores: jornalismo O Senhor Netuno D. Quixote