Podilê

Este blog é um diário das minhas intempéries.

quinta-feira

Novela é como estar namorando.

De repente me vi acompanhando interessada – interessadíssima – uma novela dessas. Já nem lembro quando foi a última vez que segui uma novela. Ultimamente, na melhor das hipóteses, via o último capítulo – sempre uma super-mega-produção com coisas mirabolantes acontecendo.

Em geral, as novelas começam bem, depois vem o (blá blá blá) e você vai vendo porque já acostumou mesmo. Eu, que não acompanho, vejo as pessoas tão devotas que me espanto. Novela é uma coisa do inferno.

Novela, romance, filme, peça de teatro, poema... a gente vê e fica pensando naquilo: como é que vai ser agora o Fulano? O que vai acontecer amanhã? E de repente você queria estar vendo novela!!!
Quer não ir no cinema, pra ver a novela...
Lamenta se tinha um jantar, porque naquele dia tem a novela...

É como estar namorando: O pensamento fica lá...numa espécie de emulação, seminário, laboratório.
Ora a atenção vai para os diálogos...
Ora para a trama (os autores criam suspense em quase todas os capítulos e não só no final)...
Ora para o caráter dos personagens, sempre ambíguos, cada vez mais (mas alguns tipos podem ir se modificando)...
A velocidade dos fatos surpreende, sempre tem uma coisa nova acontecendo.
Coisas acontecem no princípio, o que antigamente só do meio pro fim acontecia...

Fazer esse tipo de novela tem algo a ver com reger uma orquestra também. Há que se coordenar muitas coisas juntas.

O pulo do gato é quando estabelece-se o pacto entre a obra e o espectador, os namorados – neste caso – um pacto que faz com que se embarque inteiramente nas alucinações propostas. Sabemos que estamos diante de algo inverossímil, mas a inverossimilhança passa a ser secundária, o pacto estabelecido faz com que o espectador participe da farsa, do jogo, da fantasia, do namoro.

A novela inventou algo muito próximo da tragédia grega e shakespeareana. A gente sabe o que vai acontecer, mas mesmo assim vê até o fim. Mesmo tendo a antecipação no jornal da semana, assiste todo dia. Talvez para conferir, talvez para dramatizar as coisas, a vida, como se já não houvesse dramas suficientes.

Vai saber...

Música que tocou hoje de manhã, enquanto eu seguia

Giramundo
(Qualquer semelhança com a bici não é mera coincidência)

Me leve prá outro lugar
Sua estrêla,
a música
Me ensina o caminho...

Se um dia eu quiser ver
O que meus olhos não alcançarem
Eu tenho algo prá dizer
Mas não falo a sua língua...

É mais do que querer
Estrêla de muitas pontas
Seus milhões de retalhos...

Giramundo
Me faltam as palavras
Mas quem fala é a música...

Te chamo prá essa dança
Com você meu corpo gira
Em cada movimento
Te descubro um pouco mais...

Me perco nas batidas
Pois meu coração dispara
Invento um novo amor
Nessa língua universal...

Giramundo
Desejo não vai me faltar
Em cada movimento
Um feixe de côres...

Eu sigo essa viagem
Giramundo, mundo gira
Na minha mala leve
As maçãs do meu amor...

Gira, gira
Gira, gira
Giramundo
Gira, gira
Gira, gira
Giramundo

Me leve para outro lugar...

(É da Fernanda Porto)