É
Uma vez li que a Clarice Lispector também gosta dele. Letra e a palavra mais importante em português. Sábia.
Defino, com essa letra-palavra, nós: É.
O momento de nós: É.
Bom o bastante para o aqui e o agora, que com o passar do tempo foi se fortalecendo e embaralhando a noção do tempo.
Mas, houve uma troca do É por sua forma no pretérito. Na maturidade, aquilo que era foi ganhando cada vez mais espaço, até que um dia cruzou a tênue linha que delimita o tempo. Avançamos doloridamente na direção do passado.
As saudades outras, sazonais, chegaram inexoráveis; instalaram-se sem aviso prévio; tomaram conta de tudo; não tem data marcada para a partida.
Talvez porque tenham ficado juntos naquela casa, dormido juntos, lembrado de conversas até às tantas, porque tenham se contado novamente uma história ou outra e as festas ficaram para sempre guardadas naquela casa de concreto.
A cama e o colchão ainda são os mesmos.
Uma resposta lacônica diante da objetividade da pergunta; um simples aceno com a cabeça... desnudou-se toda a intenção e agora, escrevendo, é possível compreender a injustiça do aceno, dúbio, e a injusteza da presença.
É apenas uma tradução do É da Clarice.
Simples,
definitivo.
Como a saudade,
é.
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